Filme da Semana da Euronews Culture: ‘Missão: Impossível – O Acerto Final’ decepciona com exageros e nostalgia forçada

Graças em grande parte à dedicação incansável de Tom Cruise em correr – literalmente – e desafiar os limites com cenas de ação cada vez mais ousadas, a franquia Missão: Impossível conseguiu evitar o declínio que atinge a maioria das séries longas de Hollywood. No entanto, até mesmo um fenômeno como esse parece ter encontrado seu ponto de ruptura.
Se Missão: Impossível – Acerto de Contas Parte Um (2023) já dava sinais de desgaste, Missão: Impossível – O Acerto Final escancara a derrocada da saga. A trama retoma o impasse deixado no filme anterior: Ethan Hunt (Cruise) e sua equipe têm apenas 72 horas para impedir que uma entidade digital assuma o controle do arsenal nuclear mundial e leve a humanidade à extinção.
A narrativa se entrega sem pudores a um tom messiânico. Ethan Hunt é descrito como “o melhor dos homens nos piores momentos” e “o escolhido para enganar o Senhor das Mentiras” – frases reais deste roteiro que mais se assemelha a uma mistura dos piores momentos de O Exterminador do Futuro e Matrix, deixando para trás qualquer resquício de suspense de espionagem que fez a fama da série.
Além de ser marcada por um tom sombrio exagerado, a produção sofre com longos blocos de exposição que tornam a primeira hora das suas extensas 2h50 um verdadeiro desafio para o espectador. Soma-se a isso uma exaustiva mitificação de Ethan Hunt, que se aproxima mais de um messias do apocalipse do que de um agente secreto. A insistência em diálogos pesados sobre destino só contribui para o cansaço.
É lamentável que a saga chegue a esse ponto, especialmente considerando o potencial do vilão: uma inteligência artificial que representa de forma pertinente os temores contemporâneos sobre o avanço tecnológico descontrolado e a disseminação de desinformação. Ainda que sua abordagem em Acerto de Contas Parte Um tenha sido simplista, havia esperança de uma recuperação – sobretudo com a menção a fanáticos seguidores da IA no início de O Acerto Final.
Um confronto entre a equipe do FMI e uma seita digital parecia promissor. No entanto, o roteiro escolhe transformar a IA em uma espécie de profeta do juízo final, manipulando o enredo como num típico filme de Michael Bay – com explosões, clichês e exageros visuais.
É difícil entender como Tom Cruise, produtor e protagonista, e Christopher McQuarrie, diretor e coautor do roteiro, acreditaram que este seria um final digno para a era Hunt. Após acertarem em cheio com Nação Secreta e, sobretudo, com Efeito Fallout, os dois pareciam ter encontrado a fórmula ideal. Mas aqui, tudo o que foi construído é descartado em prol de uma obsessão por referências ao passado e flashbacks autoparabenizantes.
As constantes referências aos filmes anteriores – e as tentativas atrapalhadas de reescrever partes da história, quase nos moldes de 007 Contra Spectre – resultam em uma colcha de retalhos nostálgica, mas mal costurada. É a armadilha típica do universo Marvel: conectar tudo a qualquer custo, mesmo sem necessidade.
Fica a pergunta: quando os estúdios vão entender que nem tudo precisa estar conectado? E mais importante: se a intenção é reciclar momentos marcantes da saga, o mínimo é garantir que o filme atual seja tão empolgante quanto os anteriores. Caso contrário, só se reforça a vontade do público de estar revendo os clássicos – e não esse final decepcionante.